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28 agosto 2023

Artigo: Qual a sua relação com o trabalho?

Artigo: Qual a sua relação com o trabalho?

Por Fabrício Oliveira, CEO da Vockan Consulting*

O trabalho faz parte de nossas vidas desde que existimos como indivíduos – salvo raras exceções. Ensinamos para as crianças que os pais precisam trabalhar para sustentar a casa, que existem diversas profissões e, costumeiramente, perguntamos “o que você quer ser quando crescer?” nos referindo a qual trabalho desejam ter.

Na sociedade que construímos, o trabalho ocupa parte fundamental da estrutura de nossas vidas e impacta diretamente nossas relações familiares e pessoais. O conceito de “bem sucedido” passa, muitas vezes, diretamente sobre nossa posição e ascensão profissional. E é em busca desse sucesso que, na composição de nossos dias, acabamos passando mais tempo com colegas de escritório do que com aqueles que amamos mais profundamente.

Por ter tamanha importância, sempre me chama atenção a forma como nos relacionamos com o trabalho em si – não só com o que fazemos (que podemos amar ou não), mas também com o ambiente em que exercemos o nosso ofício e sobre como enxergamos que esse espaço de atuação deve e pode ser para fazer sentido que todos os dias o escolhamos.

A semana de quatro dias de trabalho

Eu tenho por hábito conversar individualmente com membros dos diferentes times que compõem a empresa. Para mim é importante para manter o pulso da realidade do negócio, não me encastelar e conseguir enxergar a companhia sob a ótica de quem realmente a faz existir: as pessoas que trabalham comigo.

Quando implantamos a semana de quatro dias de trabalho na Vockan, os resultados positivos apareceram logo. Além de a produtividade ter crescido 23%, a sensação de felicidade dos colaboradores aumentou. Obviamente, eu queria ouvir dos participantes do projeto modelo o que eles estavam achando de ter finais de semana estendidos.

Em uma dessas conversas, veio a surpresa. Uma colaboradora que conheço há anos – extremamente competente e dedicada, que entende tudo de sua área – declarou, como se diz por aí, “na lata”: não gostei. “Como assim? Você não gostou de não ter que trabalhar às segundas-feiras?”, tentei confirmar se o que eu tinha entendido era real. Mas, era isso mesmo, ela não tinha gostado da experiência. Ela me contou que se sentia culpada pelo filho vê-la de folga e se preocupava com o exemplo que está dando ao não trabalhar em um dia útil.

A semana de quatro dias é uma disrupção de um modelo que vem sendo aplicado desde a década de 1920, quando o fordismo calcificou que deveríamos trabalhar cinco dos sete dias da semana. É um século de “tradição”, mas vale lembrar que antes disso a carga era de seis dias e foi a busca por aumentar a produtividade e reduzir as faltas que fez o industrial propor dois dias de descanso. 100 anos depois, estamos na mesma encruzilhada. Precisamos produzir mais e, ao mesmo tempo, preservar a saúde mental de nossos colaboradores.

O papel do trabalho em nossas vidas

Confesso que eu não esperava que alguém não se adaptasse a ter mais tempo livre e isso me fez refletir sobre o papel do trabalho em nossas vidas. Talvez, por trabalhar ser algo tão natural da vida, não olhemos para ele como objeto, isto é, como algo que pode ser alterado, melhorado e até largado.

Quantas vezes ouvimos que o importante é estar empregado, não importa onde? Trabalhar com propósito é lindo, até os boletos baterem na porta, certo? Eu concordo. Existem momentos pelos quais todos nós passamos, em que temos que aceitar o trabalho que está posto antes de dar o próximo passo. Mas o fato é que não podemos mais deixar que o limite da nossa saúde mental seja ultrapassado porque se sucumbirmos não haverá pelo quê trabalharmos.

Com o passar do tempo, a colaboradora que citei acima conseguiu ressignificar a experiência e me contou que estava plenamente adaptada. Eu espero que o exemplo que a semana de quatro dias possa proporcionar seja o do equilíbrio.

Não precisamos esperar a aposentadoria para viver a alegria de estarmos com nossas famílias. O trabalho não precisa sugar os melhores anos de nossas vidas. Esse novo modelo veio para ficar porque seremos empresas, pessoas e um mundo melhor a partir dele.

*Artigo publicado originalmente no site RH Pra Você.

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